por Afonso Peche Filho
Pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas

Introdução

A disposição das árvores e cultivos em nível é uma estratégia essencial para garantir a sustentabilidade e a eficiência dos processos de recomposição florestal, sistemas agroflorestais (SAFs) e requalificação hidrológica de paisagens degradadas. Essa técnica visa otimizar a infiltração da água no solo, reduzir erosão e melhorar a conservação do solo e da biodiversidade.

O plantio em nível também se destaca como uma prática fundamental para a resiliência dos ecossistemas produtivos, permitindo maior estabilidade hídrica e garantindo a continuidade da produtividade mesmo em condições climáticas adversas, como períodos de seca ou chuvas intensas.

Benefícios do Plantio em Nível

1. Controle da Erosão e Conservação do Solo

  • A estruturação do plantio em nível reduz a velocidade do escoamento superficial, minimizando a remoção de partículas do solo.
  • O aumento da infiltração de água favorece a retenção de umidade, essencial para o desenvolvimento das plantas.

2. Eficiência Hídrica e Recarga de Aquíferos

  • A distribuição da água ao longo das curvas de nível reduz a formação de enxurradas e favorece a recarga subterrânea.
  • Contribui para a resiliência do ecossistema frente a períodos de estiagem.

3. Aprimoramento da Estrutura do Solo

  • O sistema radicular das plantas favorece a agregação do solo e o aumento da matéria orgânica.
  • A presença de vegetação protege a superfície do solo contra impactos diretos da chuva, evitando compactação.

4. Eficiência na Requalificação Hidrológica de Áreas Reflorestadas

  • A prática do plantio em nível favorece a estabilidade das mudas e a formação de corredores ecológicos naturais.
  • Contribui para o restabelecimento das funções ecológicas da paisagem, beneficiando a fauna e os ciclos biogeoquímicos.

5. SAFs: Plantio em Nível como Base para a Adaptabilidade Ecossistêmica

  • A implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) deve priorizar o plantio em nível, pois essa técnica qualifica enormemente a adaptabilidade ecossistêmica e promove um microclima mais equilibrado dentro do sistema produtivo.
  • O plantio em nível em SAFs melhora a distribuição da água, evita a degradação do solo e potencializa a sinergia entre espécies cultivadas.
  • Essa abordagem favorece o desenvolvimento radicular profundo, tornando o sistema mais resiliente a eventos climáticos extremos.

Recomendações Práticas para a Implementação

1. Levantamento do Terreno

  • Realizar a marcação das curvas de nível com uso de equipamentos como o nível de mangueira, teodolito, ou GPS agrícola.
  • Priorizar áreas com maior risco de erosão para garantir uma implantação eficaz.

2. Disposição das Linhas de Plantio

  • Manter espaçamento adequado entre as linhas, considerando o tipo de vegetação a ser implantada e a topografia.
  • Para SAFs, intercalar espécies de rápido crescimento com plantas fixadoras de nitrogênio e cobertura vegetal.

3. Uso de Práticas Complementares

  • Aplicar cobertura morta para minimizar a evaporação e proteger o solo.
  • Implementar barraginhas e pequenas valas de infiltração para potencializar a retenção de água.
  • Associar a técnica com sistemas de terraceamento para maior controle hídrico.

Conclusão

A priorização do plantio em nível não é apenas uma estratégia de conservação do solo, mas uma abordagem integrada para a sustentabilidade das florestas de recomposição, SAFs e reflorestamentos. Com a aplicação correta desta técnica, é possível restaurar a funcionalidade hidrológica das paisagens, melhorar a capacidade produtiva dos sistemas agrícolas e garantir a estabilidade dos ecossistemas a longo prazo.

O conhecimento e adoção dessa prática por técnicos e agricultores são essenciais para fortalecer a resiliência das áreas produtivas frente às mudanças climáticas e desafios ambientais.

Publicado em

2/julho/2025

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